A gente sabe que a vida não é nada
fácil. Não porque seu emprego está ruim, o salário é baixo ou o seu chefe pega
no seu pé. Não porque aquele filme que você queria tanto assistir saiu de
cartaz, porque os preços só aumentam ou porque os antibióticos te impedem de
beber em um sábado. Não porque você se sente sozinho, meio feio e não tem ânimo
para ir à academia. Não porque você está parado no trânsito, vive cansado e
esqueceu a senha do cartão de crédito. Todas essas coisas são meras alegorias. São
coisas as quais nos apegamos para não termos que encarar aquelas que realmente
importam.
No fundo de cada reclamação cotidiana
existe um mundo de pensamentos emaranhados que só se podem explicar através de “Isso
é um saco!”, “Quero ir embora!”, “Puta que o pariu!”. São muitas as
dificuldades da vida, mas é quase certo que a maior delas seja crescer. Essa
coisa de crescer, além de complicada, é bastante controversa. Crescer é
perturbador, desleal, desafiador e, o pior de tudo, crescer é ininterrupto. O
crescimento entra pelos fundos da casa e segue correndo até o jardim da frente.
Ele atravessa portas como um foguete, faz com que elas batam logo atrás,
produzindo um barulho enorme e deixando muita coisa do lado que ficou.
Porém, muitas vezes, não estamos
preparados para as portas que vêm a seguir e, por mais que forcemos as maçanetas,
esmurremos com os punhos ou usemos um clipe para tentar entrar, acabamos vendo
que as portas não são dadas a truques e batemos de cara. Isso dói e, como se
não bastasse, o impacto faz com que a gente dê vários passos para trás. Então,
de repente, sem mais nem menos, nos vemos ali, naquela sala que já é muito
pequena, muito escura e muito fria para a gente. Uma sala hermética que deixou
milhões de coisas atrás da última porta fechada e que não encontrou outras
milhões de coisas na porta que não conseguiu ser aberta. Sentimos-nos presos,
sem ar nos pulmões e temos a certeza de que não deveríamos estar onde estamos,
que tudo deu errado e que aquela porta não se abria por culpa do chefe, do
cartão de crédito, do salário que é pouco, da cerveja que não foi tomada, do dia
que não nasceu ensolarado...
Enganamo-nos, pois, o fato é, e não há
como esconder, que o passo ousado foi maior que as nossas pernas. Você é como a
Alice gigante na terra de pequenos quando deve atravessar uma porta; É como a
Alice pequena em terra de gigantes quando ainda não está preparado para a porta
da frente. Se debater, gritar, reclamar? Nada disso adianta. O segredo é parar
de olhar para a porta que te rejeitou e espiar o teto, que é de vidro e através
do qual se pode ver o céu. O céu sim entende de crescimento, já que é infinito.