Monday, April 23, 2012
Tuesday, April 17, 2012
Bem à sua frente estava a página em branco na tela do computador que mais parecia uma parede sufocante. A tradicional sensação de paz trazida pela cor branca estava desafiadoramente sendo substituída por uma agitação profunda, uma inquietude alarmante e um desespero orgânico. Como se não bastasse aquele estado de abobamento e a total incapacidade de seguir com coisas simples e necessárias, o tempo abafado e uma dor crônica na coluna iam se acumulando em um desconforto quase insuportável. Recorreu ao cafezinho, a abrir e fechar janelas, a bater um papo com a secretária e até ao Facebook, mas nada a fazia voltar à concentração. A verdade é que alguns dias são um saco do início ao fim. Coisas como acordar atrasado, entrar no banho e ser surpreendido por um chuveiro queimado, trânsito – mil vezes o trânsito! -, reuniões às oito da manhã, hora extra, esquecer de comprar uma lâmpada! Coisas assim se anunciam com o despertar e vão se desdobrando junto às horas. São os inferninhos cotidianos. E o tempo demora a passar, contrariando a certeza mundial de que ele voa. Ela pensa em Einstein, pensa em libélulas, pensa em revistas e no cara que conheceu no final de semana passado. Dois minutos mais. É incrível como o pensamento é rápido, e ela também pensa nisso. Deseja ter coragem para inventar um grave mal estar, um falecimento ou outra coisa que a leve para casa, mas o máximo que consegue é pedir uma licença para ir até a farmácia comprar um remédio para dor de cabeça. É claro que sim. Desce do oitavo ao térreo pelas escadas e se diverte com os passos curtos e rápidos que dá, como gostava de fazer na infância. Atravessou a porta e pisou na rua. Um vento. Bem melhor. Ia dar uma volta no quarteirão, haveria de ser o tempo certo de uma corrida na farmácia. Direita ou esquerda? Deu uma meia volta involuntária, corpo para um lado, pés para o outro, e seguiu pela direita. Chuva. Tempo abafado só pode dar nisso! Ergueu um pouco o rosto para sentir as gotas daquela chuva fininha refrescando suas bochechas e a parte descoberta de seu pescoço e de seu colo. Aquele cheiro de mato com água, as pessoas correndo de um lado para o outro com uma urgência apocalíptica e ela sem a menor pressa para voltar ao trabalho. Cruzando a última esquina, pensou em Einstein de novo.
Monday, April 16, 2012
Calor
Friday, April 13, 2012
Solidão
Solidão. Entrou naquele pedaço de qualquer coisa, meio escuro e muito sujo, pediu o que queria, ou melhor, pediu o que precisava e já ali puxou o fogo fixado à parede por um fio – sempre por um fio – e acendeu o cigarro, de filtro branco, pois saúde não é brincadeira. Seguiu caminhando na direção esquerda, muito incomodado com os cabelos que lhe cobriam os olhos e faziam cócegas nas bochechas, no vai-e-vem displicente do vento. Este, o vento, estava imperativo ao ponto de parecer conduzir os passos daquele garoto, que desvirtuava-se de seu rumo ao prazer da distração e da observação das folhas nas árvores, nos pedacinhos de conversa dos transeuntes e dos decotes gulosos das mulheres. Tudo passa, é o que dizem. Mas se fosse verdade que tudo passa não haveria razão para coisa alguma, não haveria esforço, não haveria planos, não haveria faculdade, aliança de casamento, chá de bebê ou retrô. Pode até ser que tudo passe, mas essa porra dessa solidão não passa nunca. O constante vazio e o desespero de se saber mortal. Noite passada o garoto dormiu no conforto dos seus sonhos, acreditando muito mais, tendo muito mais prazer e achando de verdade que isso podia fazer algum sentido. Mas com a manhã, o café, o espelho e a escova de dente, as ilusões perdem lugar e a única coisa que se pode fazer é fumar um cigarro, mas não tinha.