Tuesday, April 17, 2012

Bem à sua frente estava a página em branco na tela do computador que mais parecia uma parede sufocante. A tradicional sensação de paz trazida pela cor branca estava desafiadoramente sendo substituída por uma agitação profunda, uma inquietude alarmante e um desespero orgânico. Como se não bastasse aquele estado de abobamento e a total incapacidade de seguir com coisas simples e necessárias, o tempo abafado e uma dor crônica na coluna iam se acumulando em um desconforto quase insuportável. Recorreu ao cafezinho, a abrir e fechar janelas, a bater um papo com a secretária e até ao Facebook, mas nada a fazia voltar à concentração. A verdade é que alguns dias são um saco do início ao fim. Coisas como acordar atrasado, entrar no banho e ser surpreendido por um chuveiro queimado, trânsito – mil vezes o trânsito! -, reuniões às oito da manhã, hora extra, esquecer de comprar uma lâmpada! Coisas assim se anunciam com o despertar e vão se desdobrando junto às horas. São os inferninhos cotidianos. E o tempo demora a passar, contrariando a certeza mundial de que ele voa. Ela pensa em Einstein, pensa em libélulas, pensa em revistas e no cara que conheceu no final de semana passado. Dois minutos mais. É incrível como o pensamento é rápido, e ela também pensa nisso. Deseja ter coragem para inventar um grave mal estar, um falecimento ou outra coisa que a leve para casa, mas o máximo que consegue é pedir uma licença para ir até a farmácia comprar um remédio para dor de cabeça. É claro que sim. Desce do oitavo ao térreo pelas escadas e se diverte com os passos curtos e rápidos que dá, como gostava de fazer na infância. Atravessou a porta e pisou na rua. Um vento. Bem melhor. Ia dar uma volta no quarteirão, haveria de ser o tempo certo de uma corrida na farmácia. Direita ou esquerda? Deu uma meia volta involuntária, corpo para um lado, pés para o outro, e seguiu pela direita. Chuva. Tempo abafado só pode dar nisso! Ergueu um pouco o rosto para sentir as gotas daquela chuva fininha refrescando suas bochechas e a parte descoberta de seu pescoço e de seu colo. Aquele cheiro de mato com água, as pessoas correndo de um lado para o outro com uma urgência apocalíptica e ela sem a menor pressa para voltar ao trabalho. Cruzando a última esquina, pensou em Einstein de novo.

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