Friday, April 13, 2012

Solidão

Solidão. Entrou naquele pedaço de qualquer coisa, meio escuro e muito sujo, pediu o que queria, ou melhor, pediu o que precisava e já ali puxou o fogo fixado à parede por um fio – sempre por um fio – e acendeu o cigarro, de filtro branco, pois saúde não é brincadeira. Seguiu caminhando na direção esquerda, muito incomodado com os cabelos que lhe cobriam os olhos e faziam cócegas nas bochechas, no vai-e-vem displicente do vento. Este, o vento, estava imperativo ao ponto de parecer conduzir os passos daquele garoto, que desvirtuava-se de seu rumo ao prazer da distração e da observação das folhas nas árvores, nos pedacinhos de conversa dos transeuntes e dos decotes gulosos das mulheres. Tudo passa, é o que dizem. Mas se fosse verdade que tudo passa não haveria razão para coisa alguma, não haveria esforço, não haveria planos, não haveria faculdade, aliança de casamento, chá de bebê ou retrô. Pode até ser que tudo passe, mas essa porra dessa solidão não passa nunca. O constante vazio e o desespero de se saber mortal. Noite passada o garoto dormiu no conforto dos seus sonhos, acreditando muito mais, tendo muito mais prazer e achando de verdade que isso podia fazer algum sentido. Mas com a manhã, o café, o espelho e a escova de dente, as ilusões perdem lugar e a única coisa que se pode fazer é fumar um cigarro, mas não tinha.

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